9 de fevereiro de 2007

Retrato II

"Saí do trabalho um pouco mais tarde que o usual. Os recorrentes atrasos dos últimos dias me prenderam por algumas horas a mais no escritório. Fora isso, a rotina manteve sua constância. Estava nos vagões do metrô da cidade às 22 horas e já quase às 23 estava no usual caminho para casa. Do metrô até minha casa é uma pequena caminhada que eu repito há uns doze anos. Minha mãe perdeu a preocupação, desde a escola é a mesma coisa, e agora que estou trabalhando não seria diferente. Mas essa noite algo diferente aconteceu: foi perto de um trecho um pouco mais deserto da rua que eu senti uma mão segurando meu corpo e uma ponta de faca no meu pescoço. Era um homem. Ele falava com aspereza e me dizia que se eu gritasse ele me matava ali mesmo. Não o desobedeci e esperei para ver o que ele queria comigo. Com um pouco de relutância e luta, ele me carregou para uma pequena viela escura, no caminho da minha rua. Começaram a rolar as primeiras lágrimas pois eu sabia o que ele queria de mim. Ele voltou a me ameaçar e minhas pernas começavam a tremer de medo. Guardou a faca em algum lugar e com as duas mãos passou as mãos nos meus seios. Fiquei paralizada, meu corpo inteiro tremilicava e suava frio. A respiração dava pequenos socos e senti vertigens, vontades de desmaiar e não sentir mais aquele homem atrás de mim. Após alguns minutos (que me pareceram horas) daquela tortura, ele me jogou no chão. Deitou seu corpo pesado em cima de mim e pela primeira vez vi seu rosto: ele estava claramente alcoolizado. passou a mão por dentro da minha saia e começou a tirar minha calcinha. Senti o pânico da morte. Implorei a ele que por favor não fizesse nada, que tinha família, noivo. Nada o consolou. Prendi com as pernas a roupa de baixo e ele cansado da luta puxou a peça do meu corpo, ragando-a. Ele já abaixava as calças, ajoelhado entre as minhas pernas."

"Aquela vadia é uma ingrata. Trabalhei a vida inteira como ajudante de marceneiro, numa oficina que fazia móveis por encomenda a quatro quadras de casa. Com a queda no número de pedidos, meu patrão me despediu. A notícia foi má recebida em casa, a minha mulher teve um surto e falou que naquela noite não dormia em casa. Passei a noite na casa de um amigo e no dia seguinte voltei para assumir meu posto de homem da casa. A mulher bateu o pé e disse que eu não voltava para casa sem um emprego. Ela precisava do dinheiro para alimentar meus filhos, que são quatro, todos morando com a gente. Fiquei puto. Passei a dormir na casa de outros companheiros, um diferente a cada noite. O pouco dinheiro que eu ganhava, pedindo na rua ou em bicos que eu conseguia, gastava em cachaça no bar da esquina e naquelas máquinas caça-níqueis. Um dia eu estava realmente mal. Fazia pouco mais de um mês que minha mulher havia me expulsado de casa. Tomei várias doses de pinga naqueles copinhos americanos onde geralmente se serve café. Mal o colega servia a pinga, eu já virava. Comi uma marmita no bar mesmo, que a fome já era grande. Por causa da bebedeira, guardei a faca no bolso. Eu nem sabia o que eu tava fazendo direito, achei que a faca ia ser útil, mas depois de um tempo a idéia parecia totalmente absurda. Tomei a última e fui embora, sem um tostão furado no bolso. A rua se desenhava torta nos meus olhos. Os pés não obedeciam direito e os passos vacilavam constantemente. Resolvi sentar numa mureta e esperar a tontura passar. Era só eu e a rua, todo mundo já tava dormindo, eu acho. Foi ai que passou uma moça na rua com o passo desapressado. O cheiro dela me lembrou dos tempos bons com a mulher, que hoje já tava velha e estrupiada. Fui atrás dela. Pensei em pedir um trocado ou lugar para passar a noite, quando a minha mão foi para o bolso da calça e sentiu a faca. Fiquei possuído pelo diabo, puxei a faca e fui em cima dela. Botei a faca no pescoço e pensei no que ia pedir. Aí senti aquele corpo quente, aquele cheiro bom de perfume. Dei uma olhada para a rua para ver se alguém passava. Achei perigoso ficar com a mulher ali, então puxei ela para uma viela escura, a poucos passos dali. Ameacei-a e logo em seguida pûs as mãos no corpo dela. Que morena gostosa! Barriguinha sarada, os peitos grandes, não exagerados, a mulher tinha um corpo de não se desperdiçar. Passei a mão no corpo dela várias vezes, inclusive por baixo da roupa, que era muito mais quente e começou a me dar um tesão danado. Deitei-a no chão de pernas abertas e me ajoelhei perto da barra da saia dela. Tirei a calcinha dela a força, com tudo e abaixei as calças. Ela lutou muito tentava se afastar de mim mas eu voltei a puxar a faca. Falei para ela que só queria fazer isso e não ia machucar ela depois, mas a vadia não sossegou. Guardei a faca de novo e dei uns socos nela, que não iam matar a desgraçada, mas ia deixar ela mais macia para eu terminar o serviço. Após umas porradas ela sossegou e abriu as pernas para mim. Ô morena gostosa! Fazia tempo que eu não sentia as pernas de uma mulher tão boazuda assim. Começamos a trepar e, se dependesse de mim, eu ia ficar um bom tempo com a mulher."

"O crime nas cidades grandes anda cada vez pior. Eu que sou policial militar há quinze anos sei bem como os bandidos ficaram mais espertos nos últimos tempos e como o trabalho de policial passou a ser sinônimo de um trabalho inseguro. É tensão e medo todas as horas do dia. Mas as coisas não foram assim nesse dia e eu estava a caminho de casa novamente. Pensei no momento de chegar em casa e rever meus dois filhos e minha esposa. Morria de fome também e precisava jantar. Fazia o caminho de todos os dias, com a típica sacola onde levava a farda e outras coisas de todos os dias. Eram precisamente 22:47 quando passei por uma rua aparentemente deserta, o trecho mais vazio até minha casa, quando comecei a ouvir choros e soluços vindos de uma viela, perto de um poste e um orelhão. Vi uma sombra em cima de outra e após um tempo com meus olhos se acostumando a escuridão percebi que era um casal transando. Mas a mulher chorava muito e não hesitei em puxar a arma de dentro da sacola, presa ao cinto, e apontar para o estuprador. Gritei "mão na cabeça, filho da puta!". Ele demorou um bom tempo a perceber que estava falando com ele. Mas ao ver a arma apontada contra ele, ele não hesitou em botar as mãos na cabeça. Fiz ele deitar no chão, ainda com as mãos na cabeça, e revistei o cujo. Não encontrei nada senão uma faca daquelas comuns com ponta e serrilhada, típica faca de cozinha. A moça descomposta chorava sentada com as costas contra a parede. Perguntei o óbvio para ela e ela confirmou que ele realmente era um estuprador. Prendi o delinquênte com o par de algemas da minha sacola, pedi a ela paciência e voltei ao orelhão para pedir uma viatura no local. Em cinco minutos, tudo preparado. Confesso que fiquei perplexo, não pelo fato de pegar mais um marginal em flagrante, mas pelo fato de que era a primeira vez que havia presenciado um estupro. A moça continuava chorando e pedi a ela um pouco mais de paciência: ela precisava me acompnhar até a delegacia para prestar queixa e fazer exames que constatassem o crime. Fiquei mais tocado pelas lágrimas ao olhar aquele rosto e perceber uma leve semelhança com o de minha mulher. Mais ainda: ela tinha traços bem parecidos com o da minha filha. Fiquei horrorizado com a coincidência e o sangue me ferveu. Estava a um passo de cometer a pior das faltas no meu trabalho, após quinze anos de serviço."

O policial foi e voltou pelo trecho da viela com a rua de onde veio algumas vezes. Estava nervoso, desnorteado. Sabia que em breve a viatura chegaria ao local e que se fosse fazer algo, teria de fazer logo. Era fato que o que aquele estuprador ia sofrer na cadeia talvez compensasse as imagens da sua mulher e da sua filha chorando, vítimas do estupro. Não aguentou mais. Pensou em executá-lo ali mesmo, mas isso renderia problemas a ele. Num golpe de astúcia, o policial jogou as chaves da algema na mão do criminoso. "Se solta e dá o fora!". A vítima do crime ficou indignada e perguntou como ele era capaz de soltar um criminoso após pegá-lo em flagrante. O bêbado não hesitou e como pôde soltou uma das mãos da algema, o suficiente para ele se levantar e sair correndo em disparada, na direção oposta de onde todos os personagens haviam entrado em cena e onde estava o policial. Este saca a arma e efetua disparos. O primeiro acerta em cheio as costas do lado direito, região do pulmão. O segundo vai direto para a cabeça e derruba efetivamente o marginal. Mesmo após vê-lo caído, o policial não pára e dispara as quatro balas restantes do revólver 38 no corpo. Ele dá uns passos e verifica os batimentos cardíacos pelo pescoço. Ele estava morto. Retornando para perto da mulher, o policial diz "Lembre-se: ele tentou fugir". "Ele tentou fugir", repetiu a mulher maquinalmente.