1 de janeiro de 2008

O passado passado está

Meu final de ano pode ter sido insosso, mas é consequência direta de uma série de circunstâncias que incluem a ocasional falta de dinheiro e uma mudança radical nos planos. Mas ainda assim teve espaço para uma ceia modesta, um vinho para se beber só nessas ocasiões e um pouco daquele ambiente familiar que se tenta resgatar nessas épocas. Mas o meu fantasma de fim de ano não consegue descansar em paz (talvez o cujo não tenha morrido ainda em consequência disso) pois achava justo que eu compartilhasse umas poucas palavrinhas aqui. Eis-me.

2007 foi um ano turbulento, cheio de coisas que botam a gente pra pensar. Afastei o fantasma do desemprego com meu primeiro estágio oficial, embora eu já trabalhasse desde o segundo ano da faculdade. Comecei a ver a cor do dinheiro e, não nego, fiquei encantado e praticamente escravo dele. Mas além disso tudo, serviu para eu perceber que tudo aquilo que a gente aprende na faculdade de fato vai servir para alguma coisa. Pode parecer bem contraditória essa afirmação, mas a formação que temos é bem mais acadêmica, o que faz pensar bastante se estamos preparados para o mercado de trabalho. Agora posso dizer que sim.

Foi um ano de conquistas pessoais também. Comecei a treinar para valer atletismo e percebi a importância da participação, constância nos treinamentos, disciplina e sobretudo o esforço para manter a equipe unida e vencendo. Rigososamente eu não ganhei nada esse ano, nossa equipe de atletismo de longe foi uma das melhores, mas tentamos, treinamos e certamente demos muitas risadas. Acho que encaixar o esporte na vida é algo difícil para a maioria das pessoas, devido a toda essa correria. Mas senti que dessa vez foi diferente e consegui levar mais a sério esse ano. Que agora em 2008 seja parecido.

Muita coisa a mais aprimorou esse meu senso de coletividade. Contrariando um pouco minhas próprias expectativas, dei um pouco de voz aos movimentos políticos que abalaram a USP no primeiro semestre. Sinceramente não fui à reitoria ver os estudantes ou prestar apoio ao movimento que tomou o prédio, mas ao menos fui me informar a respeito do que eles protestavam. E dei razão. Um pouco mais que isso, redigi longos textos e participei de discussões acaloradas sobre os temidos decretos do Serra. Acredito que aprendi a ser mais crítico com a realidade depois desse episódio. Estou de olho no que acontece no mundo e estou pronto para discutir (aqui, talvez?).

E certamente, participar de trabalho voluntário foi um dos grandes ganhos para esse ano. Era uma vontade que antes era apenas uma semente e já nesse final de ano vejo-a brotar. Ajudar acabou fazendo um grande bem para mim mesmo, fez-me sentir com poder para mudar o mundo, mesmo que em uma parte quase insignificante. Mas tenho a certeza de que aqueles poucos atendimentos que participei esse ano foram o suficiente para alterar o rumo de muitas vidas, de um jeito que eu nem sequer consigo imaginar (mas tenho certeza).

Talvez esse ano que acabou de passar não tenha sido o melhor ano da minha vida ou aquele em que eu estivesse totalmente feliz. Teve seus problemas como todos os anos têm, trouxe tristezas e felicidades em doses não tão iguais. Foi um ano diferente. Foi um ano talvez de botar a mão na massa e tentar fazer algo de bom para mudar esse mundo e a mim mesmo. E não sou nem louco de querer me mudar e ser feliz ao mesmo tempo: sei que tudo são fases num mesmo copo que não se misturam. Agradeço profundamente pelo que ficou, de uma maneira sóbria e lúcida, como uma verdade que toma corpo bem diante dos meus olhos. De 2008 apenas espero o óbvio.