26 de setembro de 2008

Alegria Barata

A vida anda cada vez mais corrida e cheia de empecilhos para se viver. Que se dirá de nós, nesse presente de 30 anos depois de hoje, onde as coisas tornaram-se menos humanas e tudo gira em torno do dinheiro?

Fato é que nesse nosso futuro-presente, os avanços tecnológicos se fizeram presentes e coroaram a civilização com a maior das invenções: a alegria. Não a alegria, sentimento que brota como uma flor que rompe o asfalto, mas a alegria essência. Através de processos físico-químicos complicadíssimos, cientistas conseguiram sintetizar em sua forma mais pura a alegria, nosso remédio de cada dia.

Não demorou para cair na industria a miraculosa fórmula, que deu à alegria as mais diversas formas para consumo humano: latas de 350ml, garrafas de diferentes volumes, em pó (para ser misturado com água ou inalado), em pastilhas, drágeas, para fumar, injetável, emplastro, creme, etc etc. O número de opções era tamanho que logo a alegria tornou-se bastante acessível às mais diversas classes sociais. Foram os tempos da alegria barata.

O efeito colateral, não previsto pelos químicos e farmacêuticos, é que a alegria gerou uma dependência em massa sobre seus consumidores. A alegria então tornou-se a droga legalizada com o maior número de dependentes químicos em toda a história da humanidade. Em pouco tempo, a especulação sobre a necessidade da alegria elevou os preços de todos os produtos, de tal modo que a alegria passou a se tornar artigo de luxo perante a sociedade.

A maioria da população passou a consumir a alegria em doses cada vez mais espaçadas, na tentativa de dar um pouco de sabor e cor em tempos tão cinzentos de máquina, cotidiano e contas a pagar. Mas certamente os maiores afetados pelo processo foram as classes menos privilegiadas, que passaram a não encontrar em sua existência um resíduo de alegria. Persiste no tempo a sabedoria popular de até hoje: "alegria de pobre dura pouco". E a nossa (nos dias de hoje) muito menos.