28 de março de 2009

Gênese canhestra

por Justino Jesus da Paz

Começou tudo errado na minha infância: meus pais tentavam mostrar para mim a importância de estudar e ter uma profissão boa. Não vou dizer que era relaxado para estudar, mas era sempre assim "Pai, porque eu preciso estudar?" "Pra ter um emprego bom, filho" "E pra que eu preciso ter um emprego bom?" "Pra conseguir pagar suas contas, filho". Meu pai nunca chegou pra mim e me disse: vai lá filho, seja feliz. Acho que ele deduzia que com um bom emprego e com as contas pagas eu seria feliz, e foi isso que eu deduzi também.

Na verdade eu até arrisco que hoje eu sou feliz. Por que? Porque eu pago as minhas contas. Não só as contas mas compro qualquer merda que eventualmente vá me fazer feliz. Sou muito feliz por causa das coisas que tenho, porque alguém me diz eventualmente que ter tal coisa deixa a gente muito feliz.

Troquei meu sonho de ser piloto de Fórmula 1 (inspirado pelo Senna), jogador de futebol (inspirado pelas copas), de ser astronauta ou mocinho de Hollywood (inspirado pelo cinema), policial ou bombeiro ou médico (inspirado pela função fundamental das profissões), cartunista ou músico ou artista ou escritor (que é o que eu realmente queria ser) por uma televisão de plasma de 50 polegadas. Fiz um ótimo negócio, pai. Troquei inclusive o casamento (o senhor nunca me falou nada sobre isso) por uma trepada ocasional no meu duplex. Uma pechincha, às vezes eu nem preciso pagar.

Consigo ser feliz também por ter superado essas porras todas que cruzaram meu caminho: a falta de vocação pra algo, a faculdade, a redação, minha frustração com incapacidade de mudar o mundo. O mundo é uma grande bosta muito maior do que a gente que manda a gente estudar e comprar TVs de plasma. Hoje meu pai tem orgulho de mim.

Me perguntaram algumas vezes: Justino, você quer ter filhos? Deus me livre de ter filhos. Um dia o guri vai vir pra mim e me perguntar pra que ele tem que estudar. Não vou saber responder no começo e logo em seguida vou mandar ele à merda.

16 de março de 2009

Desaventuras no jornalismo

por Justino Jesus da Paz

Pois bem, após algumas brigas com esse negócio todo aqui, eis meu segundo texto. Como eu falei antes, meu nome é Justino Jesus da Paz, amigo do proprietário dessa birosca, que está postando em caráter extraordinário para "recuperar o meu eu lírico", vulgo encher linguiça enquanto o João não pode. Grande coisa ter encontrado o cara depois de tanto tempo e ele me mandar escrever aqui, francamente.

Mas já que não tem muito o que fazer, vou escrever, afinal 'Justino escreve'. Vou contar a vocês o que me levou a me tornar jornalista. Para quem não sabe eu sou jornalista. Sou formado numa faculdadezinha mequetrefe que não vale a pena citar, principalmente porque não me ensinou nada do que faço hoje. Mas enfim, a única coisa que eu sabia fazer mais ou menos direito quando pequeno era escrever. A professora até elogiava os meus textos e falava que eu era uma criança criativa nas reuniões de pais e mestres. Minha mãe quando lia os textos achava no máximo bacana e meu pai claramente gostava mais de ler o jornal. Minha vó é quem deu trela e falou "aposto que um dia você vai ser um grande jornalista". Ela não falou escritor porque não queria que eu passasse fome. E deu no que deu.

Amarguei alguns anos de faculdade, regado a muita festa e tranqueiras, como todo bom universitário faz (se você não é, recomendo que entre na faculdade por esse motivo). Não vou dizer que foi ruim, vai. Aprendi a bolar baseados e corrigi alguns erros de português grotescos que eu cometia. Dei uma melhoradazinha no estilo com auxílio de alguns professores que realmente se preocupavam comigo. Estagiei na redação de um grande jornal daqui de São Paulo e outra de uma revista feminina de homem pelado. É, eu tava precisando bastante do dinheiro.

Na tentativa de impor minha visão crítica de mundo, voltei as redações de grandes jornais, mas não mais como o garoto que passa o café ou tira xerox, e sim como o redator. Mas tomei no cu: meu chefe queria que eu escrevesse exatamente como ele pensa. Sabe como é, se eu não escrever como ele pensa, que é como o chefe dele pensa, ele se fode e eu vou junto na roda. Enfim, fiquei desgostoso com isso. Não posso nem me expressar como eu quero nessa merda de profissão. Talvez na revista de homem pelado as pessoas me ouçam mais do que nessa bosta de redação.

6 de março de 2009

Novo Colaborador

por Justino Jesus da Paz

Já dizia minha avó que não devemos disperdiçar as oportunidades. E foi com essa linha de raciocínio que eu aceitei (na verdade, antes eu aproveitei outras oportunidades e elas acabaram se aproveitando de mim, espero não estar no caminho errado) a oportunidade de me tornar colaborador deste blog, junto a meu amigo João. Certamente poucas pessoas me conhecem. Pra ser exato, nenhum de vocês deve me conhecer, porque nunca dei as caras por aqui, nem em citação, mas tudo bem.

Aos perdidos eu explico: eu e João praticamente crescemos juntos e fui uma daquelas amizades de infância que vingou. Algum tempo sem se falar, acabei o encontrando e matamos as saudades. Algum tempo depois, numa conversa aleatória em algum bar de São Paulo, bebericando uma cervejinha (na verdade foi por Gtalk e eu sou abstêmio, mas acho que assim dá um ar mais boêmio), comentei da minha infelicidade com a minha profissão. Ah, eu sou jornalista. E então meu amigo se ofereceu para me dar um teto nesse espaço virtual para tentar me reencontrar com "a beleza subliminar das crônicas e histórias".

Certo, a primeira coisa que fiz foi acessar o blog e ver os 'posts', como diria ele. Vá lá, alguns textos meio chifrins, mas não era mal. Pelo menos não tinha (muitos) erros de português. Me interessei e falei para ele que toparia escrever uma coisa ou outra. Na verdade, a ter que escrever algo em conjunto com ele eu preferiria fazer o 'Justino escreve', mas para não atropelar a idéia do colega fiquei por isso mesmo. Virei colaborador.

Na verdade eu não sei o que deu na telha do cara pra me chamar aqui para escrever. Eu sinceramente não tenho nada para falar, principalmente para vocês que são pessoas que eu nem conheço. Pra ser honesto, acho que o Jão abandonou essa tranqueira na minha mão pra ficar atualizando qualquer merda e falar que o blog tem conteúdo. Mas antes que a oportunidade se aproveite de mim, eu vou me aproveitar dela.