28 de novembro de 2006

Na cozinha

Nem lembro o dia ao certo, mas me deu vontade de cozinhar, como aqueles chefs que se vê na televisão que fazem pratos saborosíssimos que você come só com os olhos. Nunca tive uma iniciativa forte, muito menos para cozinha onde minhas investidas sempre me renderam péssimos frutos. Mas teve um dia que eu cheguei para minha mãe, estufei o peito e disse "vamos às compras".

Há um sacolão aqui do lado de casa. Mal fui lá, quando muito para comprar um salgado pastel (pelo preço) e anuais rosas para a namorada. Mas comprar vegetais, frutas, isso nunca, e tudo tem uma primeira vez. Fomos então na nossa jornada por uma cozinha um pouco mais saudável para a família e para uma iniciação culinária do escritor. Maçãs e bananas, perdão mas de fruta são essas poucas que eu como; uma indefectível alface, batatas, cebolas; sempre me apaixonei pelo verde das ervas e sua capacidade de dar um colorido nos alimentos. Estava saciada a nossa fome primordial.

Chegando em casa, com algumas compras do mercado, eis que arregaço as mangas e ponho-me na cozinha. De um peito de frango tiro a gordura e corto em pedaços bem grossos. Deixo temperar por um tempo com muito limão e sal na geladeira, e vou descansar por um tempo. Volto e já esquento um pouco de olho na panela e começo a cortar rodelas de cebola. Jogo os pedaços do frango no óleo quente e deixo dar uma boa dourada junto com um pouco do caldo de limão. Assim que cozido, jogo os anéis de cebola e junto porções de generosas de salsinha picada fresca. E pronto! Douradas um pouco as cebolas, desligo a panela e eis minha experiência culinária. Não muito experimental, devo boa parte do crédito dessa receita ao colega Renato em cuja casa estive quando o vi executar essa receita. Mas foi um começo.

E já faz um tempo que esse ritual perdura: todo final de semana vamos ao sacolão e escolhemos algo novo para fazer. O arroz eu consegui acertar depois da trágica primeira experiência e, veja só, até na cozinha oriental eu ando atacando! Após o farto almoço ou jantar, com uma salada bem caprichada, colocamo-nos todos felizes a deitar na cama, sentar no sofá e comer um fruta e ficar vendo a televisão, como reis após o banquete.

Desse novo ritual que se criou em casa acho que não preciso dizer muito. A vida é aquilo que fazemos e esperamos dela. Mesmo os mais relaxados deveriam se por de vez em quando para fora de casa e fazer caminhadas, sair, beber, ou mesmo cozinhar para a família/namorada(o)/amigos, pois são esses atos de frequência religiosa que dão um gosto especial as nossas vidas: eu apenas coloquei isso na prática. E um dia ainda convido os leitores para um banquete preparado por mim, aqui em casa.

18 de novembro de 2006

Começar de novo e as regras do jogo

Após um retiro espiritual longo e penoso, João volta a escrever publicamente. Acho que é bom explicar algumas coisas que se passaram desde o último dia do antigo blog, cujo propósito de certa maneira era bem parecido com o deste. Basicamente eu desisti de tudo que era relativo à vida virtual. Eu me sentia num grande buraco, onde as pessoas sabiam da minha vida pelo orkut, conversavam comigo pelo MSN e liam ocasionalmente o que eu tenho para dizer no "Crônicas, Poesias e Estórias de um João". Ridículo, não? Pode soar exagerado para alguns, principalmente os que vivem de uma realidade parecida com a que eu vivi, mas depois de alguma reflexão, isso não me pareceu tão absurdo. Entrou em vigor o meu período de silêncio, no qual eu aproveitei melhor a vida na medida do possível.

Passa o tempo, as correntes perdem seu peso e sua capacidade de prender. Nova reflexão: afinal, o que disso tudo do qual eu abdiquei me tornou um ser humano melhor? A conclusão é que de fato deixar tudo de lado foi bom, mas, mais do que isso, o blog deixou marcas. É algo que me fez falta, não tanto para desabafar sobre a minha vida e sim para exercitar a criatividade, uma valiosa qualidade que eu julgo ter. Não escrever atrofia os músculos das mãos e dos braços e o cerébro também. Eu caminhava devagar para a saída da minha pseudo-profissão.

Chegou um dia alguém e me disse "cara, você escreve muito bem, você tem um perfil de um cronista". É verdade, eu tenho andado meio brigado com a minha poesia e minhas historietas soavam muito surreais e sufocantes. Mas na crônica eu era Rei: era chegar, marretar o teclado com os dedos e eis a minha visão de mundo, sempre um tema variado, contemporâneo e uma abordagem criativa sem ser demasiadamente piegas. É, é isso ai, vou tentar escrever crônicas. Começaram a florescer idéias, recortes picados do dia-a-dia que davam pano para manga de muita história.

Não quis recomeçar a escrever no meu espaço antigo. Achei simbólico deixar aquele espaço para trás para dar margem a uma nova fase do João-escritor, um refinamento de estilo para uma quem sabe oportunidade que ainda vai surgir. Existe, à partir de hoje, o espaço "João escreve", provável título desse espaço (nem me importo como isso aqui vai se chamar), com um layout padrão do Blogger, onde eu pretendo fazer experiências culinárias com exercícios de estilo e temas variados.

Para que o jogo seja limpo, ponhamos regras para quem escreve e para quem lê. Para mim cabe o papel de escrever com o intuito de agradar, incomodar, fazer pensar, propor uma discussão geral ou apenas narrar sob o meu ponto de vista algum acontecimento aleatório no mundo. Não digo que poemas não vão figurar aqui também. Proibo-me a colocar desabafos sentimentais, isso aqui é um trabalho, e trabalho tem folha de ponto, rendimento diário, projeto e profissionalismo: sem espaço para pessoalidades. Para o leitor, que será mais do que leitor e sim um agente regulador desse espaço, eu peço seu tempo para ler o que escrevo. Sem pressa, sente-se, acomode-se na cadeira e diga a si mesmo "vou ler um texto desse cara, vou prestar atenção". E seja duro na hora da crítica (estilo crítico de cinema impiedoso!), porque achar o que eu escrevo "bonitinho" ou "simpático" não vai me acrescer em nada. Tenha opinião sobre o que eu escrevo, não aceite tudo que eu digo.

Explicado o êxodo do sistema e a física que compõe esse diferente planeta, vamos aos poucos dar vida a ele e esperar para ver o que acontece.