3 de fevereiro de 2009

Anti-merchandising

(começa com uma frase de efeito e termina com uma história real)

Emagreci 5kg nos primeiros dias: era a depressão que me roia os ossos. Te amei, te amava (os tempos verbais todos se confundem) por tanto tempo, que o simples pensamento de amanhecer sem a perspectiva de você me azedava a boca, ao ponto que a comida que entrava, quando entrava, era pouca e caia mal no estômago.

Chorei. Chorei absurdos, a tal ponto que acreditei ter perdido os 5kg assim: no choro. Tornei-me inútil e tão pouco necessário. Apenas ficava ali, parado, num transe. As coisas paradas se mexiam e por alguns momentos te vi atravessar a porta desesperada, em vão. Tua imagem virou pintura na porta por onde te vi passar e dizer adeus.

Comecei a fumar e cheguei a arquitetar minha própria morte. Deixei os dois, pois nenhum caminho me levava para o teu lado.

Passei a me torturar com as fotos de nós dois juntos. Amei-te tão profundamente que seria capaz de construir a ponte no abismo, brotar uma rosa no chão. Quis teu cheiro em um vidro para dele fazer meu vício, meu perfume diário e ocasional. Nada ficou senão a sua imagem, e as nossas fotos, na minha mão, se apagavam com tamanho querer.

Hoje sou resoluto e batalhador. O tempo fez questão de apagar as nossas memórias, mas como um jarro de água no deserto, restaram de mim 5kg a menos de gente e uma sede absoluta que rios, lagos e oceanos não conseguem levar.