16 de junho de 2007

Falta de memória

Acho que o ponto de partida mais adequado seria citar a conversa entre eu e minha mãe conversando sobre a diferença de gerações, a minha e a dela. Minha mãe, com toda a mais sincera naturalidade, afirmou que é difícil entender os valores dos jovens de hoje levando em conta que na época em que ela era jovem (e não faz tanto tempo assim) vários padrões éticos e comportamentais eram seguidos e hoje eles estão deturpados. Eu concordei com ela, mas fiz questão de defender a minha geração: os valores mudam com o tempo. Até concordei que vários comportamentos hoje tendem ao desrespeito, infelizmente, mas que isso nada mais era do que uma conseqüência do ritmo alucinante ao qual nós fomos submetidos. Hoje tudo precisa ser rápido, instantâneo: a comunicação, a comida, a leitura, a aquisição de informações, etc. O impacto dessa rotina é visível hoje nos jovens da minha geração e dos mais novos. Temos menos paciência para lidar com coisas complicadas, crianças com vontade de se tornar adolecentes (namoros, transas, drogas) e falta de memória, dentre outros motivos que podem ser facilmente minados do contexto todo desse parágrafo.

A questão fundamental: falta de memória. Não sei se isso acontece com vocês, mas eu, por exemplo, admito ter uma memória fraca. Claro que alguns fatos marcantes eu acabo lembrando sempre (são lembrados pelo fato de serem marcantes), mas algumas lembranças de passado recente somem na minha cabeça. E isso realmente me perturbou quando percebi que cheguei a esquecer nomes e rostos de antigos colegas de colégio/escola, viagens, até mesmo a própria rotina de alguns tempos atrás.

Claro que tudo isso pode ser perfeitamente natural (afinal acho difícil se lembrar de tudo em uma vida), mas acredito seriamente em alguma correlação com esse ritmo de vida alucinante que nós temos hoje e essa perda de memória: como precisamos absorver conhecimento num ritmo muito rápido, nossa memória acaba não fazendo um mapeamento das nossas lembranças e memórias são sobrepostas. Claro, um neurologista talvez poderia explicar melhor, mas acho que é isso que acontece. E fico preocupado com isso, pois temos um sistema de vida que exige que aprendamos rápido justamente para que tenhamos capacidade de termos bons momentos. Vulgo, é um sistema parcialmente auto-destrutivo, onde o que restam são lembranças muito especiais que tenham marcado nossas vidas.

Eu gostaria muito de acreditar que algum dia o ser humano tomaria consciência da necessidade de uma rotina menos massante para aumentar substanciosamente a sua qualidade de vida. Mas não vejo um momento preciso em que isso pudesse ocorrer: corremos cada vez mais e nossa incansável maratona de vida consome cada vez mais o planeta. Já tive a perspectiva de que um dia eu teria tempo parar respirar da minha rotina e hoje a dúvida que me atormenta é outra: algum dia, enfim, pararemos?

9 de junho de 2007

Cadê?

É fato que às vezes quem escrevi sempre pode sumir. Talvez seja o meu caso, mas eu analizaria o quadro de um ponto de vista diferente: temas nunca pararam de surgir na minha cabeça. As coisas pequenas principalmente, essa série de acontecimentos, objetos, sentimentos que alimentam textos a rodo nesse e em outros blogs que raramente são reparadas por uma pessoa "comum". Escrever de certa maneira é mostrar a existência desses diversos lados da moeda (muito mais do que dois, mas comumente separados por verdade e mentira, vai da crença de cada um).

Mas mudanças radicais insurgiram na minha vida nesses últimos tempos: o lado acadêmico, no qual eu entrei com força total esse semestre e já vejo sua força quase nula para mover uma montanha de coisas para fazer, estabelecimento de novas metas no âmbito de trabalho e acadêmico também, início do meu estágio, que me garantiu o dueto estabilidade financeira/total falta de tempo, e isso tudo associada a velha amiga depressão que já acompanha os ossos de João há algum tempo.

Foi essa semana que talvez tenha surgido um começo de mudança. Larguei tanta coisa de lado para viver algumas coisas mais intensamente, que de repente a saudade de velhos amigos, de velhos hábitos e mesmo da periódica digitação de um texto nesse espaço me causaram um vazio imenso. Perguntei-me de maneira bem sincera "será que vou parar de escrever depois de tanto tempo?". A perspectiva de uma resposta me deixou vexado. Já não tenho mais aquele tempo todo para a literatura. Saudades até de carregar um Drummond embaixo do braço (há quem diga que já havia virado meu desodorante), das leituras corridas e quase embaralhadas no ônibus. Era esse momento leve que me dava sonhos e esboços de criatividade longe da minha correria. Hoje sou um paulistano até o nervo que puxa na testa.

Mas não, é preciso ir contra isso tudo. Já tive lapsos de tempo muito grandes sem escrever uma única linha que não fosse um trabalho ou coisa que o valha. Decidi ficar no mundo das letras e tentar retomar, não o ritmo que anda cada vez mais agitado, um pequeno pedaço de estilo. Esse sim foi trabalhado a sangue nos últimos anos e não pode morrer. É preciso escrever sobre qualquer coisa, mesmo uma mentirinha.