28 de maio de 2008

Hiato criativo


E lá está novamente o mundialmente conhecido escritor, na frente de sua máquina, o cigarro aceso e os dedos nervosos aguardando as nervosas batidas nas teclas de sua Olivetti elétrica. O expediente no trabalho fora bastante produtivo e tinha certo o fato de que, tão logo chegasse em casa, botaria em papel mais um bom texto para ser publicado.

Mas as coisas não fluiram tão bem quanto se esperava. Passava já do segundo maço e a pequena sala improvisada onde ficava a escrivaninha e sua máquina já se turvava com o tanto de fumaça. Tinha certo o tema para mais um texto no retorno para casa que já até recitava para si mesmo as linhas do primeiro parágrafo. Fato é que no papel não ficou tão bom quanto na fala, e lá se foi um papel pra lixeira.

Quem escreve tem que se resignar: tem horas que o santo definitivamente não baixa. E ficamos adiando entregas prometidas para datas, quando escrever depende muito mais de algo que nos é desconhecido do que propriamente de nós mesmos.

O escritor tomou em mãos o jornal do dia (já de ontem, pois passara da meia-noite). As notícias de sempre: nononono nononono nono no nonono. Pensou em escrever sobre isso, mas quando os ingredientes são ruins, a sopa sai insossa. Matou as cruzadinhas do dia afim de achar uma palavra que desencadeie o fluxo de idéias, rumo a um texto esplendoroso. Em vão.

Já meio entregue ao sono e com o pulmão menos saudável (foram 5 maços em toda noite), desceu até a padaria da esquina onde foi tomar um café-da-manhã para se recompôr. Foi quando a mocinha veio lhe trazer o desjejum que lhe veio o lampejo. Marcou a idéia para um texto genial num guardanapo que, posteriormente pela falta de atenção, usou para limpar a boca. Antes de voltar à máquina, decidiu cochilar, quando esqueceu sua idéia e sua necessidade de escrever.

15 de maio de 2008

Existência

Mas... o que é o ser humano senão seus desejos, suas vontades e sua manifestação em relação ao todo em que vivemos? Somos a provocação viva, o argumento e a dúvida. Existir assusta, impressiona, encanta ou incomoda, mas é essa sensação exata que comprova nossa existência ante todos.

O que as coisas são quando não olhamos? As coisas são as coisas em si: o vaso, a cama, os livros sobre a mesa e a mesa em si. O que diferencia o ser humano das coisas é que, quando ninguém está olhando, não somos nós: somos nossas sombras. E vamos deixando de existir assim, aos poucos, até que um par de olhos venha nos salvar.