4 de janeiro de 2007

Arte on demand, poesia contra a morte e outros temas

Foi lendo a antologia dos primeiros anos d'O PASQUIM que eu li uma entrevista com Paulo Mendes Campos sobre o papel e a valorização da arte (isso já nos anos 70). Ele declarava que era difícil viver de adaptações e tudo o mais, pois era necessário muito mais trabalho para conseguir ganhar o mínimo necessário para ele sobreviver. Antes isso fosse algo isolado, mas eu percebi de muitas leituras minhas que a maioria dos escritores realmente precisam dar muito duro para conseguir reconhecimento e dinheiro. E dinheiro passa longe de significar luxo, estou falando de subsistência. Claro, os caras provavelmente estavam tirando uma casca do governo, onde na mesma entrevista comentava-se que o Brasil era um dos poucos países onde a arte era um bem desprezado e pouco valorizado (bem típico de militares, diga-se de passagem), mas no contexto dos dias de hoje, é muito diferente?

Penso: suponha que algum dia eu venha a escrever profissionalmente e de repente me depare com essa onda de desvalorização da arte. Paro alguns instantes e tento imaginar, minha imagem é meio que de desespero com tristeza. Acho tão triste, e em parte compreensível, que hoje não se tenha uma necessidade por arte. Lembro quando, numa das minha idas ao Itaú Cultural, vi uma família inteira que foi ver a mesma exposição que eu. Perguntei-me quantas famílias daquelas deveriam fazer isso. Talvez o principal bloqueio em relação a arte seja a associação com algo que apenas poucas pessoas possam entender ou fazer, meio que uma elitização do termo. Imaginem então alguém que tente viver exclusivamente de arte, como aqueles artesãos que vendem quadros em azulejos no centro de São Paulo e na avenida Paulista.

O mais engraçado é que eu nunca consigo chegar a uma conclusão quando o tema é arte. Aparecem tantos ramos que dependem do assunto e desencadeiam novas discussões que bota qualquer um perdido. Para mim, no final das contas, arte é uma diversão, seja criar como assistir. Lembro daquelas aulas de arte que tínhamos no primário: fizemos até reuniões na casa de colegas para fazer algo legal. Era muito divertido. Acho que estou ficando velho.

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Comprei um livro do Drummond novo (para a coleção) já faz um tempo: "A Paixão Medida". Eu quis comprar os livros do homem em ordem cronológica de publicação, mas como as prateleiras de poesia em livrarias não são as mais fartas, acabei pegando esse livro mesmo, já que mais hora menos hora ele ia figurar na minha prateleira. Fui ver que foi um dos últimos livros dele. Li aquela introdução histórica do papel no livro na bibliografia do autor e percebi que era uma fase de total maturidade do poeta, algo como a necessidade de escrever para lutar contra a morte.

Fiquei muito perplexo com isso. Eu como jovem que sou talvez não entenda muito disso. Mas tento conceber como é imaginar que dentro de alguns anos morrerei e preciso verbalizar tudo que eu puder, antes que eu morra, para os que ficam entenderem o que é realmente a vida, passados todos os anos como ser humano e como autor. Resultado: encostei provisoriamente o livro, se o ler, não entenderei.

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Novamente o "padrinho" desse blog se faz presente. Certo dia indaguei sobre o primeiro capítulo do livro que ele estava escrevendo e que pedi na mais pura curiosidade do gênero "qual o estilo desse cara". O resultado é que ele me explicou o que se passava para acontecer tal atraso e de quebra me disse de onde veio a inspiração para o livro. Era um conto que, por não caber em si mesmo, acabou desabrochando em um pedaço de uma história maior e no final acabou virando um capítulo de um livro. Essa história é velha de guerra para quem já experimentou escrever alguma vez, mas algo me fez pensar: esse tempo todo eu nunca arrisquei uma narrativa um pouco mais longa, mais elaborada. Será que eu consigo?

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