4 de junho de 2008

Privatização do português

Começou com uma brincadeira na sala de reunião da com o alto escalão da empresa. E se registrassem o nome da empresa, a QuaNTo (cujo significado deixo em aberto) de modo que cada pessoa que grafasse de alguma maneira se nome tivesse que pagar uma quantia simbólica pelo uso do nome? Os advogados entraram na justiça para requerer o direito e ver no que dava.

E justo num daqueles buracos das leis, que só os especialistas entendem, a empresa conseguiu ganhar a causa, sendo estipulado o fato de que a cada vez que a palavra 'quanto' (com qualquer combinação de letras maiúsculas ou minúsculas) a pessoa deveria pagar um centavo de real à empresa. E mal sabem vocês a quantia alarmante que a empresa lucrou em curto período de tempo, de modo que as pessoas já estudavam táticas para driblar o uso da palavra.

Este caso tornou-se um marco sem precedentes em termos de economia e língua portuguesa. Aproveitando a morosidade da justiça, empresas começaram a patentear palavras soltas da língua portuguesa sob o pretexto de que as tais eram acrônimos para nomes de produtos, subdivisões do empreendimento, marcas, nomenclatura de protótipos, etc. Alguns tiveram destaque internacional, como a empresa "a", que surgiu do nada e tão logo possuia um dos maiores capitais do país, com ações na bolsa e tudo mais.

Visando apaziguar os ânimos e percebendo-se do potencial econômico de sua própria língua nativa, o governo soltou um pacote de medidas que previam a venda de conjuntos de palavras ainda sem dono. Algumas palavras foram repatriadas e postas a leilão, a título de cobrir os enormes gastos causados pelo buraco na legislação. Escritores (atividade posta em risco ante a ameaça de cobrança por palavra) em suas colunas no jornal não poupavam veneno em seus textos: quem dizia que não era possível ganhar dinheiro com o português?

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